3 coisas que aprendi na minha primeira semana de estágio em MGF
abril 08, 2016
Para quem é novo aqui, eu sou estudante de medicina e estou atualmente no 5º ano, o que significa que 80% do meu percurso académico neste momento é passado em contexto profissional.
Nesta semana que passou, iniciei uma das minhas residências em Medicina Geral e Familiar (MGF). Já tinha passado por esta área no 1º ano, mas foi só uma semana. Agora não, agora será até ao fim de Maio, com aulas incorporadas pelo meio.
Já estando mais perto de terminar o curso, enquanto que no 1º ano observava mais, agora sou mais interventiva e estou cada vez mais atenta ao funcionamento da especialidade. Já na primeira semana pude-me aperceber de alguns problemas no quotidiano do trabalho e decidi expor algumas dicas para a próxima vez que forem ao médico.
1 - Levem pelo menos uma lista de medicamentos
Um médico de família tem em média 1500 a 1900 doentes. Ou seja, torna-se muito complicado lembrar-se exatamente dos fármacos que o paciente toma, as doses e etc. A aliar a isto tudo, o sistema informático que se utiliza durante as consultas de vez em quando tem uns de repentes e deixa de funcionar. Depois, as pessoas não são obrigadas a saber exatamente o nome da sua medicação, até porque muitas vezes são nomes complicadíssimos. Por fim, às vezes os pacientes têm um problema com um determinado fármaco e querem comunicá-lo ou querem pedir uma alternativa, e vêm-se à rasca para explicar qual deles é. Até nos podem dizer "é um de caixa verde e o comprimido é amarelo" e nós até podemos chegar ao tal fármaco, mas isto pode não ser possível se a pessoa for polimedicada ou se está a ser consultada por outro médico, que não o habitual e que não a conheça. Assim eu aconselho a todo o mundo a levar uma listinha de tudo o que tomam, incluindo medicamentos convencionais, alternativos, chás, com a informação o mais completa possível. Pode ser:
- lista em papel
- fotografias
- as caixas
2 - Não tenham medo de expor as vossas dúvidas
É interessante ver a evolução da relação médico-paciente durante uma consulta. No início há alguma inibição, algum medo de expor as dúvidas, no fim (mesmo depois da medicação já ter sido prescrita) lá se nota que há mais alguma coisa que o paciente quer dizer ou perguntar, mas tem receio. Eu quero vos dizer que, se confiam no vosso médico, perguntem. Mesmo que pensem que a dúvida vos pareça parva ou sem sentido, ela pode ser esclarecida e às vezes pode constituir um problema para o paciente sem se ele se aperceber (assim de repente, é frequente as mulheres pós-menopausa terem secura vaginal e, consequentemente dificuldade e dor nas relações sexuais e muitas vezes não sabem que há produtos no mercado que podem usar). Não se esqueçam que existe uma coisa chamada "sigilo médico" e, salvo raras exceções, a conversa não sai daquela sala.
3 - Se querem pedir exames, tenham justificação para eles
É muito frequente uma pessoa ir ao médico de família pedir para fazer exames. A maioria são aquelas análises mais gerais, mas há quem chegue a pedir Radiogradias, TACs e até Ressonâncias. Do ponto de vista financeiro (e acreditem que se recebe muitas pressões externas para fazer controlo de custos) seria incomportável fazer todos os exames. Depois, certos exames têm radiação e não faz sentido expor uma pessoa a uma coisa que é cumulativa ao longo do tempo e que é prejudicial se for em excesso. Assim, o que se faz? Pergunta-se o porquê que a pessoa está a pedir aqueles exames. Muitas vezes até há justificação para fazer os exames (é o colesterol, é porque se está a sentir mais cansado, é porque tem dores nos joelhos), mas há outros que não. Às vezes é porque o vizinho fez ou foi aquele ator/atriz fez ou porque deu na televisão ou novela. O exemplo, entre outros que apanhei já esta semana foi um senhor com os seus 60 e muitos anos, com queixas de dor lombar, que queria à força fazer uma Ressonância Magnética. Depois do exame físico feito e consultando a radiografia anterior que o senhor tinha (e que tinha sido feita no ano anterior) chegou-se a conclusão que ele não precisava daquele exame. E explicou-se. Ele eventualmente "aceitou", mas deixou a impressão que é capaz de ir a um médico particular (está no seu direito) e ir lá pedir o dito exame.
Espero que o post tenha sido esclarecedor e se tiverem dúvidas deixem nos comentários :)
Bom fim-de-semana e até à próxima
xoxo
6 comentários
Essa dos medicamentos dá jeito, também, no dentista. Quando as pessoas me vêm com a história do "é um comprimido amarelo e o nome acaba em "-ol" " dá-me sempre vontade de rir. Outra coisa que detesto é que faltem às consultas que estão marcadas. Tenho uma lista de espera imensa, às vezes nem as urgências consigo atender, para depois haver um espertinho que não aparece à consulta que tinha marcada... isso tira-me mesmo do sério!
ResponderEliminarNa USF onde estou nem é muito problemático, mas no hospital, principalmente em áreas como a Oftalmologia que a lista de espera é anos, isso sim também me tira do sério!
Eliminarmuito obrigado, querida Sofia. Exatamente. Partilho da mesma opinião quando referes que muito pouca gente dá valor a estes problemas de ansiedade. Contudo, o que é certo é que são problemas dificilmente controláveis :/
ResponderEliminarAchei o post extremamente informativo e tiro-te o chapéu por isso. Vou ficando a par das novidades e espero mesmo que o estágio corra às mil maravilhas :D
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Instagram ∫ Facebook Oficial Page ∫ Miguel Gouveia / Blog Pieces Of Me :D
Ora bem, Dra. Sofia, estou a gostar muitíssimo do seu blogue, eheh! :)
ResponderEliminarQuanto ao senhor que quer fazer uma ressonância magnética e insiste... O homem só pode ser maluco, AHAH. Achava que as pessoas normais preferiam fazer somente os exames cuja realização se justifica... Enfim!
Que o estágio seja fantástico, mereces as melhores coisas! :)
Estou à espera de mais posts, querida! :3
ResponderEliminarSe não sair hoje, sai amanha de certeza! :)
EliminarBeijinhos